O dióxido de carbono é uma substancia natural, resultado quer de actividades geológicas quer biológicas e tem uma grande importância em variadíssimos processos que ocorrem actualmente (como é o caso da fotossíntese e do efeito de estufa por exemplo).
O problema com que nos deparamos actualmente, não tem a ver com a presença deste gás na atmosfera (que é fundamental) mas sim com a sua elevada concentração. Antes da revolução industrial, quando a poluição atmosférica era ainda pouco significativa, a concentração de CO2 na atmosfera estima-se que eram de sensivelmente 280 ppm (partes por milhão), sendo este valor considerado um valor razoável. Quando se realizaram as primeiras medições no final da década de 1950 este valor era já de 315 ppm. Actualmente estes valores encontram-se nos 380 ppm e estão a subir a uma velocidade de 2 ppm por ano.
Inicialmente pode não parecer uma subida muito drástica, mas é o suficiente para que, dentro de alguns anos, alterar substancialmente a temperatura à superfície do planeta. Esta subida tem particular importância se considerarmos o que muitos cientistas definem como o “ponto de não-retorno” que se considera ser por volta dos 450 ppm (este valor é apenas uma estimativa visto que existem outros gases cujas concentrações podem também influenciar o efeito de estufa).
A partir desta concentração, o degelo na Gronelândia e na Antártida ocidental será de tal forma elevado que o nível do mar pode subir drasticamente e a salinidade das água ser alterada.
Temos também que ter em conta o “efeito bola de neve”, à medida que a temperatura aumenta mais gelo derrete e por isso mais tundra (tipo de solo, negro) fica à superfície. Este solo negro absorve bastante mais radiações que o gelo que reflecte grande parte destas, isto leva a que mais calor fique retido levando a que se dê ainda mais degelo e por isso mais solo negro à superfíciee assim sucessivamente este efeito é importante e teme-se que possa ser um dos grandes propulsores de um aumento drástico da temperatura.
Como combater este flagelo?
Para combater a rápida alteração da temperatura a nível mundial temos já ao nosso dispor as capacidades técnicas e tecnológicas para o fazer. É necessário o empenho de todas as pessoas e governos.
Foi estimado que as emissões anuais de CO2 para a atmosfera fossem, em 2057, de cerca de 16 mil milhões de toneladas. A partir desta estimativa foram descritas por Robert Socolow e Stephen Pacala as 15 “cunhas de estabiização” sendo que cada uma destas cunhas reduzirá as emissões de carbono em mil milhões de toneladas por ano em 2057.
Apresentaram assim 15 medidas em que cada uma poderia levar à diminuição das emissões de CO2 em mil milhões de toneladas por ano.
Estas estão descritas da seguinte forma:
Eficiência e conservação
• Melhorar a economia do combustível dos carros em 2057 de 8 litros/100km para 4 litros/ 100km
• Reduzir os quilómetros percorridos por cada carro de 16 mil para 8 mil km/ano.
• Aumentar em 25% a eficiência dos sistemas de aquecimento, refrigiração, iluminação e dos electrodomésticos.
• Melhorar a eficiência das centrais electroprodutoras alimentadas a carvão de 40% para 60%
Captura e armazenamento
• Captura e armazenamento de CO2 em 800 centrais alimentadas a carvão ou em 1.600 centrais alimentadas a gás natural.
• Usar sistemas de captura de carbono em centrais de produção de hidrogénio alimentadas a carvão, produzindo combustível para mil milhões de carros.
• Captura em centrais de combustível sintético abastecidas a carvão para produzir 30 milhões de barris/ dia
Combustível com menos carbono
• Substituir 1.400 grandes centrais a carvão por centrais a gás natural.
• Abandonar o consumo de carvão e triplicar a produção de energia nuclear
Renováveis e bioarmazenamento
• Aumentar a energia eólica para 25 vezes a capacidade actual
• Aumentar a energia solar para 700 vezes a capacidade actual
• Aumentar 50 vezes a produção eólica para fabricar hidrogénio para carros alimentados por células de combustível
• Aumentar 50 vezes a produção do biocombustível etanol. Seriam necessários cerca de um sexto dos terrenos de cultivo mundiais
• Parar a desflorestação por completo
• Estender as técnicas de lavoura conservacionistas a todos os terrenos (a lavoura normal liberta carbono ao acelerar a decomposição da matéria orgânica).
Energias renováveis
Para atingir os ambiciosos objectivos delineados é necessária uma aposta muito grande no sector das energias renováveis. É necessário perceber que nenhuma destas energias pode por si só resolver o problema, é necessária a combinação destas tecnologias e a sua utilização conforme a rentabilidade numa dada área o que permitirá a redução muito substancial do uso de combustíveis fósseis.
Energia solar
A energia solar tem vindo a sofrer uma evolução gigante ao longo dos últimos anos. O rendimentos dos painéis solares é cada vez maior o que permite que seja utilizado cada vez menos espaço na colocação de painéis (MW/M)(que é apresentada como uma das principais desvantagens deste tipo de energia actualmente).A energia solar tem vindo a ser muito utilizada em Portugal estando o nosso país nos primeiros lugares em termos de produção de energia solar.
A evolução deste tipo de energia pode ser verificado pela construção de uma central de energia fotovoltaica em Serpa, conhecida por ser a maior do mundo, que logo no ano seguinte “perdeu” o primeiro lugar para uma central em Amareleja quatro vezes maior que a de Serpa.
A tecnologia de produção tem sofrido várias evoluções sendo que os novos painéis fotovoltaicos de filmes finos CIGS reduzem a utilização de matéria prima de 1 kg/m2 para 10g/m2. Esta diminuição da matéria prima é importante pois torna mais barata a produção sendo por isso mais competitiva.
Esta tecnologia tem ainda algumas desvantagens principalmente devido ao baixo rendimento dos painéis e à necessidade de grandes áreas, por esta razão tem-se vindo a por em causa a viabilidade de centrais fotoeléctricas centralizadas pensando-se que este tipo de energia funcionaria melhor de forma descentralizada baseada em microgeração espalhada por todo o território (produção doméstica por exemplo).
Energia hídrica
Este tipo de energia tem um papel predominante na produção a nível nacional e internacional. A construção de barragens possibilita a produção de grandes quantidades de energia eléctrica sendo que permite também o controlo do leito dos rios e o abastecimento de água.
No entanto este tipo de energia, embora renovável, tem grandes impactes ambientais, pois fragmenta os rios não permitindo que os peixes passem de um lado para o outro da barragem o que favorece o isolamento das populações, impede que certas espécies de peixes (como é o caso do salmão) possam desovar no rio, inundam vales que por vezes são ricos em fauna e flora, para além disso as albufeiras criadas pelas barragens aumentam as perdas de água por evaporação e são emissoras de gases de efeito de estufa.
Actualmente pondera-se o uso de pequenas centrais hídricas cujos custos e impactos são significativamente menores.
Energia eólica
A energia eólica tem vindo a tornar-se cada vez mais importante como fonte de energia renovável, tendo já, em alguns meses, ultrapassado a produção de energia hídrica. Este tipo de energia apresenta baixos impactos ambientais (mas não nulos) e tem elevado potencial como produtora de energia. A sua tecnologia (e as dimensões das turbinas) tem vindo a aumentar consideravelmente sendo que os novos aerogeradores produzem cerca de 20 vezes mais energia do que produziam há duas décadas atrás. Também na produção de energia eólica Portugal tem vindo a destacar-se sendo que em 2007 foi classificado em 5º lugar na lista de nova potência instalada (o que é bastante bom principalmente tendo em conta as dimensões do país). Alguns avanços foram feitos nesta tecnologia nos últimos anos, principalmente na microgeração, entre estes encontra-se a diminuição do ruído que é actualmente considerado uma das maiores desvantagens da tecnologia.
Energia das ondas
Este tipo de produção de energia encontra-se ainda muito pouco desenvolvido não tendo grande representatividade a nível mundial. Encontra-se no entanto em fase de pesquisa, nomeadamente em Portugal e espera-se que esta tecnologia se prove viável o que seria muito positivo para o nosso país uma vez que a sua costa é bastante extensa.
Energia geotérmica
Este tipo de energia pode ser utilizado para a produção de energia eléctrica (recursos de alta entalpia) ou para o aquecimento e arrefecimento de edifícios (recursos de baixa entalpia).
Os recursos geotérmicos de alta entalpia têm uma elevada produção em alguns locais como é o caso dos Açores (onde esta representa entre 25 a 35 % da energia produzida) e da Islândia. Infelizmente as fontes de energia geotérmica de alta entalpia são escassas e por isso a sua utilização é limitada.
Já os recursos energéticos de baixa entalpia são abundantes e de fácil utilização no aquecimento e refrigeração de habitações. A circulação de água a uma temperatura de cerca de 20 ºC faz com que no inverno esta dê à casa um temperatura superior à ambiente (aquecendo esta) e no Verão a temperatura de 20ºC seja refrescante comparativamente à temperatura exterior.
Poupança começa em cada um de nós
Embora algumas destas formas de redução do impacto ambiental estejam ligadas à tecnologia e às medidas do estado, o desenvolvimento sustentável não será possível de alcançar sem a colaboração de cada um de nós. O estilo de vida que a maior parte de nós adopta actualmente é insustentável e por isso é necessário que se mobilize a população para este problema, cada um pode tomar as suas próprias medidas que, em conjunto com as das outras pessoas, trazem vantagens extraordinárias.
Para isso vimos propor algumas medidas que podem adoptar de forma a reduzir a pegada ecológica:
• Utilização dos transportes públicos
• Adesão a formas de energia renováveis (painéis fotovoltaicos, micro aerogeradores, sistemas de energia geotérmica, colectores solares)
• Separação do lixo
• Redução do uso de aquecedor e ar condicionado (pode-se por exemplo abrir as janelas de manhã e à noite de forma a arrefecer a casa)
• Não deixar as fichas ligadas à tomada quando já não se está a utilizar o aparelho pois dão-se perdas de energia
• Utilização de veículos híbridos
• Não deixar os aparelhos em stand-by
• Reduzir a utilização de água (banho de chuveiro, lavagem do carro com esponja, lavagem dos passeios sem recurso à mangueira…)
• Ter cuidado com a eficiência energética da casa pois em muitos casos esta leva a elevadas saídas (ou entradas) de calor levando a que se tenha que aumentar o uso do ar condicionado.
É fundamental que se desenvolva a consciência ambientalista da população pois só assim é possível conbater o aquecimento global, apenas um esforço coordenado pode impedir que as consequências desta crise ambiental sejam ainda muito mais profundos do que o que já são. Não podemos esperar que os governos façam o que compete a toda a gente, preservar o ambiente. Sem a cooperação da população as medidas dos governos são ineficientes. É preciso agir e não podemos continuar a fingir que este problema é algo com "tempo para ser resolvido".É necessária uma acção imediata antes que todo o planeta sofra pelos nossos erros.
Referências:
Revista National Geographic Portugal Novembro de 2007
Revista National Geographic Portugal Junho de 2008
Revista National Geographic Portugal Junho de 2009
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